Estudo sobre Apocalipse 1
Estudo sobre Apocalipse 1

Deus Pai deu a Cristo o conteúdo do relato, que, por sua vez, o deu ao apóstolo João por intermédio de seu anjo. Talvez a expressão "seu anjo" possa ser traduzida por "seu mensageiro", uma vez que a palavra grega angelos (anjo) significa "mensageiro" (22:16). O verbo "notificar" indica que o relato usa sinais e símbolos para transmitir verdades espirituais.

Na verdade, o conteúdo do relato estendeu-se diante dos olhos de João. Fisicamente, ele estava na ilha de Patmos (1:9), contudo Deus transportou-o ao céu (4:1), ao deserto (1 7:3) e a uma montanha (21:10) a fim de que testemunhasse esses eventos e os registrasse para nós. Há uma bênção para quem Jê o relato em voz alta e para os que o escutam com coração atento. Contudo, o versículo 3 indica que não devemos ler Apocalipse com curiosidade negligente; devemos "guardar" suas palavras, ou seja, obedecer a elas e praticá-las.

Às expressões "próximo" (v. 3) e "em breve devem acontecer" (v. 1) não significam que essas profecias seriam cumpridas na época de João. Antes, indicam que o tempo passará rápido quando elas forem cumpridas. Hoje, nosso longânimo Deus espera a fim de dar uma chance para que os pecadores se arrepenA p o c a l ip s e 1 dam. Todavia, não haverá retardamento quando chegar o momento de aplicar esses julgamentos. 

I. O Cristo que João conhecia (1:4-8) 

João saúda as igrejas da Ásia Menor quando ordena o que deve ser feito (v. 11). Ele revê o milagre da Trindade citando cada divindade que faz parte dela:

A. O Pai
"Aquele que é, que era e que há de vir" (v. 4), isto é, o Deus eterno. Veja 1:8 e 4:8. O Senhor está além da história, não é limitado pelo tempo.

B. O Espírito
O algarismo "sete" é o número de complementação e de padrão para o cumprimento do Espírito. Em 4:5, as "tochas de fogo" representam os sete Espíritos; e, em 5:6, sete olhos os simbolizam. Cristo tem Espírito séptuplo (3:1), e o Espírito aponta para Cristo.

C. O Filho
Apresenta-se Cristo, em sua pessoa trina, como Profeta (Fiel Testemunha), Sacerdote (o Primogênito dos mortos que é superior aos ressuscitados) e Rei (Soberano dos reis da terra). A seguir, João louva a Deus pela obra tripla que Cristo realizou na cruz: ele amou-nos, libertou-nos de nossos pecados e constituiu-nos um reino de sacerdotes. Reconquistamos em Cristo o domínio que perdemos em Adão. 

No versículo 7, Apocalipse faz a primeira de sete referências ao retorno de Cristo (2:25; 3:3,11; 22:7,12,29). Esse retorno dele é público (Dn 7:13; At 1:8ss), e não devemos confundi-lo com o do arrebatamento da igreja, que é secreto (1 Ts 4:13ss). Os gentios prantearão Cristo, e os judeus verão aquele a quem traspassaram (Zc 12:10-12; veja Mt 24:27-30).

II. O Cristo que João ouviu (1:9-11)

João estava exilado em ilha localizada a cerca de 112 quilômetros de Éfeso, de onde pastoreava as igrejas asiáticas. Em Marcos 10:35-45, Tiago e João pediram tronos, mas, anos mais tarde, receberam tribulação. Tiago foi morto (At 12), e João,exilado. Ele foi exilado por causa da Palavra de Deus que pregou. É interessante o fato de João mencionar 23 vezes o mar nesse relato. "Na ilha [...] no Espírito" (vv. 9-10, NVI), que situação maravilhosa! Nunca devemos perder nossas bênçãos espirituais por causa de nossa localização geográfica. 

A voz de Cristo pareceu uma trombeta para João. Em Apocalipse, as trombetas são importantes; em 4:1, a trombeta chama João para o céu, um retrato do arrebatamento da igreja; e em 8:2ss, as trombetas sinalizam que Deus derramará sua ira sobre o mundo. No Antigo Testamento, os judeus usavam trombetas para reunir a assembléia, para anunciar as guerras ou para proclamar dias especiais (Nm 10). A trombeta de Deus chamará a igreja para casa (1 Ts 4:16), reunirá Israel (Mt 24:31) e anunciará a guerra sobre o mundo (Ap 8:2ss). A voz disse a João que escrevesse esse relato e o enviasse às igrejas das quais estava separado. Havia mais que sete igrejas na região, mas Cristo escolheu essas para representar as necessidades espirituais de seu povo.

III. O Cristo que João viu (1:12-20)

João não podia mais "conhecer Cristo segundo a carne" (2 Co 5:16). Agora, ele é o Rei-Sacerdote ressuscitado e exaltado. João viu o Cristo glorificado em meio a sete candeeiros, que simbolizavam as sete igrejas (1:20). O povo-de Deus é a luz do mundo; a igreja não criou a luz, apenas a mantém e deixa-a brilhar. Não vemos um candeeiro enorme, mas sete candeeiros separados.

Use um guia de referências bíblicas cruzadas (como da Bíblia Thompson) para estudar os símbolos que essa passagem apresenta para o Cristo glorificado. Suas vestes são de um Rei-Sacerdote. Os cabelos brancos falam de eternidade (Dn 7:9). Seus olhos vêem tudo e julgam o que vêem (Dn 10:6; Hb 4:12; Ap 19:12). Cristo vê o que acontece nas igrejas e julga. Os pés de bronze dizem respeito ao julgamento, o altar de bronze era o local em que se julgava o pecado. A voz dele — "como voz de muitas águas" — sugere duas coisas: (1) a Palavra dele, como o mar, tem poder; e (2) todas as "correntes" da revelação divina convergem para Cristo. Veja Salmos 29 e Ezequiel 43:2.

Ele tinha sete estrelas na mão, e estas são os mensageiros (ou pastores) das sete igrejas. É possível que tenham vindo mensageiros dessas igrejas e recebido o relato de Apocalipse diretamente de João. As estrelas são os mensageiros (1:20); Cristo segura seus servos nas mãos. Veja Daniel 12:3. Sua Palavra que julga é a espada que sai de sua boca; veja Isaías 11:4, 49:2 e também Apocalipse 2:12,16 e 19:19-21. O rosto que brilha como o sol fala da glória dele; leia Malaquias 4:2. Em 22:16, ele é a brilhante Estrela da manhã, pois aparecerá para sua igreja no momento de maior escuridão, pouco antes da ira de Deus surgir no horizonte.

João aconchegou-se ao peito de Cristo quando ele estava na terra (Jo 13:23); dessa vez, ele cai aos pés dele (Dn 8:1 7; e veja Ap 22:8). Hoje, os santos precisam ter cuidado para não se tornar "familiares" demais com Cristo em sua fala e em sua atitude, pois ele merece toda a honra e todo o louvor. Ele afirma João e acalma seus temores. Ele é "o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim" (22:13; 1:8), por isso não precisamos ter medo. Ele tem as chaves do Hades, o reino da morte. Um dia, o Hades entregará a alma dos perdidos (20:13-14). Em 1:19, Cristo resume o relato de Apocalipse (veja o esboço). Seguir qualquer outra abordagem em relação a Apocalipse, seria presumir que sabemos mais sobre esse relato que Cristo.

Nos capítulos 2— 3, Cristo lida com as sete igrejas. Ele examina a condição espiritual delas com seus
olhos de fogo ao ficar no meio delas. Ele faz isso hoje. O importante é o que Cristo pensa a respeito da igreja, não o que os homens e as denominações acham. Observe que as cartas para as sete igrejas repetem os diferentes elementos usados na descrição de Cristo apresentada nos versículos 13-16. A mensagem das cartas enfatiza os atributos de Cristo que se aplicam à necessidade específica da igreja. O perigo para as igrejas é Cristo remover o testemunho delas (2:5). Antes, ele teria uma cidade nas trevas que um candeeiro fora da sua vontade divina. Adiante, o relato repetirá grande parte do simbolismo desse capítulo. Ele não receberá ênfase excessiva se você usar seu guia de referência cruzada quando estudá-lo. 

IV. As sete igrejas da Ásia Menor

Se Apocalipse 1:19 é o esboço inspirado do relato, então Apocalipse 2— 3 lida com "as coisas [...] que são". Em outras palavras, Cristo selecionou sete entre as muitas igrejas da Ásia Menor a fim de transmitir sua mensagem específica para cada uma delas. Sem dúvida, as outras igrejas têm pecados, contudo os assuntos discutidos com essas sete igrejas cobrem todas as circunstâncias possíveis. Cristo selecionou essas sete igrejas para ilustrar as possíveis condições espirituais das igrejas até seu retorno.

Alguns estudiosos crêem que essas igrejas também ilustram a "história profética" da igreja da época apostólica até o fim das eras: a de Éfeso é a igreja da era apostólica, que começa a perder aquele amor
inicial por Cristo; a de Esmirna é a igreja perseguida do século I (c. 100-300 d.C.); a de Pérgamo é a
ligada a Roma, a igreja estatal; a de Tiatira representa o domínio do catolicismo romano; a de Sardes
simboliza a igreja reformada; a de Filadélfia ("amor fraternal") é a igreja missionária dos últimos dias; e a de Laodicéia é a igreja indiferente, apóstata dos últimos dias. Entretanto, lembre-se que todas essas condições apresentadas estiveram presentes na igreja em uma época e estão presentes hoje. Além disso, se essa seqüência é a "história profética" da igreja, então Jesus não pode retornar para seu povo até que se cumpra a era da igreja laodicense, o que impossibilita que ele retorne em breve. As sete igrejas ilustram o desenvolvimento geral da igreja ao longo das eras, porém esse não é o principal objetivo das sete cartas. Observe o uso da palavra "vencedor" para cada igreja (2:7,11,17,26; 3:5,12,21). Esses "vencedores" não são os "supersantos" de cada igreja, um grupo especial que receberá privilégios especiais, mas os verdadeiros crentes de cada uma delas. Não ousemos presumir que todo membro de cada igreja local ao longo da história é um verdadeiro filho de Deus.

Aqueles que realmente pertencem a Cristo são "vencedores" (1 Jo 5:4-5). Em cada período da história, houve verdadeiros santos na igreja professa (muitas vezes, chamada de "igreja invisível"). Cristo envia uma palavra especial de encorajamento para eles, e, com certeza, podemos aplicá-la a nós mesmos.

Veja também que ele associa Satanás a quatro igrejas: (1) ele é a causa da perseguição em Esmirna (2:9); (2) tem seu "trono" em Pérgamo (2:13); (3) ensina "coisas profundas" em Tiatira (2:24); e (4) usa sua "sinagoga" de falsos cristãos a fim de opor-se aos esforços para ganhar almas em Filadélfia (3:9). Cristo menciona vários perigos que cercam essas igrejas:

A. Os nicolaítas (2:6,15)
O nome "Nicolau" significa "conquista o povo" e sugere a separação de clérigos e de leigos nas igrejas. Em Éfeso, esse pecado se iniciou como "obras" (v. 6); todavia, em Pérgamo, torna-se uma doutrina. Isso acontece desta forma: os enganadores introduzem atividades falsas na igreja, e, depois de um tempo, elas são aceitas e encorajadas.

B. A sinagoga de Satanás (2:9; 3:9)
Provavelmente, refere-se a congregações que afirmam ser crentes, mas, na verdade, são filhos do diabo (Jo 8:44). A palavra "sinagoga" significa apenas "reunião", é uma assembléia de pessoas religiosas. Portanto, Satanás tem uma igreja!

C. A doutrina de Balaão (2:14)
Leia Números 22—25. Balaão levou Israel a pecar ao dizer-lhe que, como era o povo da aliança de Deus, podia misturar-se com os pagãos que não seria julgado por isso. Balaão não podia amaldiçoá-lo, mas tentou-o com os pecados da carne. Assim, sua doutrina era que a igreja podia casar com o mundo e ainda servir a Deus.

D. A pagã Jezabel (2:20)
Leia de 1 Reis 16 a 2 Reis 10. Jezabel era a esposa pagã do rei Acabe e levou Israel à adoração de Baal. Ela seduziu Israel com seus ensinamentos falsos.

V. A mensagem pessoal

Observe os problemas espirituais dessas igrejas, e as instruções de Jesus para elas a fim de que alcançassem suas bênçãos:

A. Éfeso
Ocupa-se bastante com o trabalho para o Senhor, mas não tem amor sincero por ele. Programa sem paixão. Essa é a igreja ocupada que tem estatísticas excelentes, todavia desvia-se da devoção sincera a Cristo.

B. Esmirna
Essa igreja não recebe críticas do Senhor, no entanto um perigo a ronda. Essa é uma igreja pobre e sofredora. Seria fácil fazer concessões, enriquecer e escapar da perseguição. Devia sentir-se muito desencorajada por não ser rica como a igreja laodicense.

C. Pérgamo
Essa igreja tinha membros que abraçavam a doutrina falsa de que é possível professar Cristo e, ao mesmo tempo, viver em pecado. As pessoas também estavam sob o jugo pesado de ditadores espirituais que promoviam a si mesmos, não ao Senhor.

D. Tiatira
Essa mulher, a falsa profetisa Jezabel, não podia ensinar, e a doutrina dela levava as pessoas a pecar. Na igreja local, temos de manter a ordem de Deus (1 Tm 2:11-15).

E. Sardes
Reputação sem vida. Os melhores dias dessa igreja ficaram no passado. Essa é a igreja do "foi"; tinha um grande nome no passado, mas nenhum ministério hoje. Ela está pronta para morrer, todavia pode ter vida nova se fortalecer o que tem.

F. Filadélfia
A igreja que tinha diante de si uma porta aberta e leva o evangelho para o mundo. Essa é a igreja que guarda a Palavra e honra o nome de Cristo. No entanto, sempre há o perigo de se fazer concessão, porque a sinagoga de Satanás não está muito longe deles.

G. Laodicéia
A igreja apóstata e indiferente que tem muita disponibilidade financeira, mas não tem bênção. Essa é a igreja com riqueza material e pobreza espiritual. O mais triste é que nem mesmo sabia como era pobre e miserável! Cristo esta à porta da igreja e pede que, pelo menos, um crente se entregue a ele.


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